Perfume pop de Rita Lee & Roberto de Carvalho se espalha em premiação que laureou obra da dupla de compositores
Kell Smith, Pitty, Zé Ibarra e Fernanda Abreu se destacam em números musicais com sucessos da parceria do casal na entrega do oitavo Prêmio UBC. Elenco de ca...
Kell Smith, Pitty, Zé Ibarra e Fernanda Abreu se destacam em números musicais com sucessos da parceria do casal na entrega do oitavo Prêmio UBC. Elenco de cantores do Prêmio UBC 2024 saúda Roberto de Carvalho ao fim da cerimônia que laureou a parceria do compositor com Rita Lee Miguel Sá / Divulgação UBC ♫ ANÁLISE ♪ “Existe um fragmento de Rita Lee em todos nós”, sintetizou Roberto de Carvalho, emocionado, na noite de ontem, 4 de dezembro, ao receber o Prêmio UBC pela obra que construiu a partir de 1978 ao lado de Rita Lee (31 de dezembro de 1947 – 8 de maio de 2023), parceira de cama, mesa, música e banho de espuma. Feito no palco do Teatro B32, em São Paulo (SP), o discurso de agradecimento de Roberto foi o ponto culminante da cerimônia de entrega da oitava edição Prêmio do compositor brasileiro, criado pelo diretor-executivo da União Brasileira de Compositores (UBC), Marcelo Castello Branco, para celebrar quem exerce o dom e o ofício de criar música. Concedido desde 2017, o Prêmio UBC já laureou grandes nomes da MPB como Gilberto Gil, Erasmo Carlos (1941 – 2022), Milton Nascimento, Herbert Vianna, Djavan, Alceu Valença e Caetano Veloso. Ainda que de forma póstuma, Rita Lee é a primeira mulher a receber o prêmio em honraria dividida com o compositor, instrumentista, arranjador e produtor musical com quem atingiu a excelência pop de parceria que alavancou os álbuns lançados por Rita a partir de 1979, após a fase roqueira da cantora com a banda Tutti Frutti. O discurso de Roberto de Carvalho foi legitimado pelo roteiro musical do evento. As 13 músicas apresentadas por 11 artistas – em números musicais feitos ao longo da cerimônia roteirizada por Nelson Motta e apresentada por Wilson Simoninha – reiteraram que a trilha sonora do Brasil está impregnada de múltiplos fragmentos do cancioneiro do casal Rita & Roberto. Isso ficou claro desde que, substituindo Paula Lima, Graziela Medori abriu o roteiro musical com Nem luxo nem lixo (1980), voltando mais tarde para cantar o medley que uniu Banho de espuma (1981) com Chega mais (1979). Toda a plateia do Teatro B32 sabia de cor aquelas 13 músicas apresentadas – com arranjos reverentes às imbatíveis gravações originais de Rita – sob direção musical do tecladista Danilo Santos, integrante da banda capitaneada pelo guitarrista Beto Lee, filho do casal 20 do pop rock brasileiro, diretor artístico do show e intérprete naturalmente vocacionado para cantar na premiação o rock Papai me empresta o carro (1979). Entre rocks, baladas e boleros, Rita Lee e Roberto de Carvalho muitas vezes atingiram a perfeição pop, sobretudo entre 1979 e 1982, com obra temperada com toques de Carnaval, disco music, erotismo, latinidade e romantismo. Diante de tal perfeição, restou a cada artista convidado ser o mais fiel possível ao espírito da obra e de Rita. Presença bissexta em premiações, Leo Jaime pôs a verve a serviço de Flagra (1982). Kell Smith protagonizou momento de brilho individual ao interpretar a sombria Vírus do amor (1985) com vigor, teatralidade e atitude própria, gerando (merecidos) aplausos entusiásticos da plateia de convidados. Kell Smith brilha ao cantar 'Vírus do amor' em número muito aplaudido na entrega do oitavo Prêmio UBC Miguel Sá / Divulgação UBC Zé Ibarra também mostrou personalidade e provou que faz jus à fama de ser um dos melhores cantores da nova geração quando acionou a região aguda da voz para interpretar de forma pessoal a canção Mania de você (1979), primeiro hit blockbuster da parceria de Rita & Roberto. Pitty se confirmou legítima herdeira de Rita Lee ao degustar o rock On the rocks (1983) – e cabe lembrar que a própria Rita detectava em Pitty uma espécie de sucessora na dinastia do rock made in Brasil. Revelada em 1982, no apogeu da trajetória artística de Rita & Roberto, Fernanda Abreu foi outra presença certeira, dando o tom feliz de Saúde (1981). Completando o elenco da cerimônia orquestrada sob direção de Otávio Juliano, Carol Biazin cantou Amor e sexo (2003, parceria de Rita & Roberto a partir de crônica de Arnaldo Jabor), Chico Brown reviveu Caso sério (1980) – cantando e depois tocando um teclado-sintetizador – e o cantor Matu Miranda encarou Alô, alô, marciano (1980), única música do roteiro que, embora composta por Rita e Roberto, atravessou gerações sem associação com a dupla, mas com Elis Regina (1945 – 1982), intérprete que lançou a música em gravação magistral no álbum Saudade do Brasil (1980). Ao fim da cerimônia, Roberto de Carvalho puxou Lança perfume (1980) se intitulando “o cantor mais desafinado da noite” antes de iniciar o número terminado em canto coletivo com as presenças dos artistas convidados. Com Lança perfume espalhando alegria, palco e plateia do Teatro B32 quase viraram um salão de Carnaval, deixando claro que centenas de milhares de fragmentos de Rita Lee (e de Roberto Carvalho) estão impregnados na alma de cada brasileiro. ♪ O crítico e colunista musical do g1 viajou a São Paulo (SP) a convite da UBC.